Se a comunicação não estudar o contexto atual, não haverá respostas nem organização política para o momento que vivemos, diz Roseli Figaro

“Falar que comunicação tem a ver com capitalismo de plataforma é dizer que comunicação é trabalho, que está no trabalho e que, portanto, o capitalismo, ao explorar o trabalho, explora a capacidade humana de comunicação”, afirma a coordenadora do CPCT, Roseli Figaro.

Em entrevista concedida à DigiLabour, newsletter semanal sobre tecnologia e mundo do trabalho, ela diz que a comunicação se insere no contexto do atual desenvolvimento tecnológico como mais um ponto para a exploração do capitalismo.

“O trabalhador sempre teve que se virar sozinho, sempre foi deixado à míngua. Hoje é a mesma coisa com esse discurso do empreendedor. Você que tem não só que suprir o seu plano de saúde, mas a sua formação, a sua capacitação para ir pro trabalho. E o que ele se apropria cada vez mais é da nossa capacidade de comunicação, de interação com os outros por meio dos dados. São os dados como as nossas subjetividades, os nossos corpos, olhares e gostos. Isso tudo é também apropriado e transformado num dado que será trabalhado e transformado em informações disputadas e valorizadas para o bem do capitalista”, pondera.

Roseli Figaro reforça a necessidade de se compreender a relação entre comunicação e trabalho pela perspectiva da ontologia do ser social: “O trabalho é impossível sem a relação com o outro, sem o acúmulo de experiências repassado adiante, sem a criação de conceitos, sem a mediação dos signos. Aí está a comunicação.”

Ela chama atenção ao fato de que a comunicação precisa assumir sua responsabilidade social face aos problemas da utilização das tecnologias e do desmantelamento do Estado. “Tudo o que nós temos aí são meios, fluxos e ferramentas que possibilitam fluxos de dinheiro, matérias e mercadorias, mas nós temos mais do que isso: a apropriação das informações das pessoas, que é o grande banco do capitalismo hoje, os dados das pessoas. E é a comunicação que tem que responder como a sociedade vai interagir com essa realidade”, pondera.

Ao longo da entrevista, a coordenadora do CPCT fala também sobre os 20 anos de pesquisas relacionadas ao binômio comunicação e mundo do trabalho, com base nos estudos desenvolvidos pelo CPCT, em especial as investigações recentes que envolvem os arranjos alternativos e independentes às corporações de mídia.

Ela aponta ainda os desafios que estão postos para a comunicação no cenário atual: “Do ponto de vista do desenvolvimento das forças produtivas, o capitalismo abriu uma nova fronteira para aprofundar a expropriação. As forças produtivas estão preparadíssimas. Nós nunca estivemos tão próximos das condições ideais para o socialismo, para um outro mundo possível, para humanização da humanidade. Mas nós não temos, do ponto de vista da organização, forças políticas que possam dar respostas à essa base que está preparada. E se a comunicação não estudar o que está acontecendo, nós não teremos respostas políticas para isso e não teremos organização política para dar conta do que está acontecendo.”

Confira aqui a entrevista completa concedida à newsletter DigiLabour, editada pelo professor Rafael Grohmann, que integra o Programa de Pós-Graduação em Ciências da Comunicação da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS).

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