Empresas de plataformas faturam muito alto em cima da vida das pessoas, critica Roseli Figaro

“Não há transparência e muito menos neutralidade nesse gerenciamento. As funções contidas na sentença algorítmica e a remodelagem dos algoritmos estão orientadas pelo objetivo comercial da empresa de plataforma”, afirma a professora Roseli Figaro, coordenadora do CPCT e do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Comunicação (PPGCOM) da ECA-USP.

Em ensaio publicado no Nexo Políticas Públicas, ela explica didaticamente como ocorre o processo de coleta de dados, muitas vezes sem o consentimento das pessoas. Descortina, ainda, a lógica de exploração que se traveste de uma falsa sensação de autonomia para o trabalhador.

“É importante salientar que essa forma de racionalização do trabalho não está restrita aos trabalhadores desqualificados, mas estende-se para o conjunto de outras atividades. Médicos, enfermeiros, todos os serviços relativos à saúde e ao bem-estar, jornalistas, professores, advogados, arquitetos, entre muitas outras profissões já atendem por aplicativo e atuam a partir da lógica da coleta de dados dos seus clientes”, aponta.

Roseli Figaro, que estuda os efeitos da plataformização na atividade profissional dos jornalistas, diz que os avanços tecnológicos são sempre bem-vindos, desde que não se vulnerabilize as relações de trabalho. Para tanto, defende que as conexões existentes em toda cadeia produtiva das plataformas seja explicitada para que os trabalhadores saiam da invisibilidade.

“As metas de qualidade de vida e trabalho decente estabelecidas pelas Nações Unidas e pela OIT (Organização Internacional do Trabalho) são o mínimo necessário para o processo civilizatório. Sair da barbárie é reconhecer o valor do trabalho humano”, pondera.

Confira a íntegra do ensaio O ingrediente secreto dos algoritmos: a produção de dados dos trabalhadores aqui. O texto faz parte de uma série analítica sobre trabalho e tecnologia, que teve início com outro artigo (É possível trabalho decente em plataformas digitais?), de autoria de Mark Graham, que é diretor do projeto Fairwork, e de Rafael Grohmann, responsável pela iniciativa no Brasil e pelo Laboratório de Pesquisa DigiLabour.

 

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