Livro apresenta pesquisa sobre o trabalho de jornalistas em arranjos alternativos de mídia

O Centro de Pesquisa em Comunicação e Trabalho (CPCT), vinculado à Escola de Comunicações e Artes (ECA), da Universidade de São Paulo (USP), tem os resultados da pesquisa científica que mapeou 70 arranjos de trabalho jornalístico alternativos e/ou independentes dos meios corporativos, na Grande São Paulo. Os pesquisadores do CPCT investigaram como trabalham, como se sustentam e que tipo de jornalismo praticam esses arranjos alternativos e/ou independentes.

A pesquisa intitulada “As relações de comunicação e as condições de produção no trabalho de jornalistas em arranjos econômicos alternativos às corporações de mídia” foi realizada entre set./2016 e ago./2018, dirigida pela professora Drª Roseli Fígaro, coordenadora do CPCT e do Programa de Pós-graduação em Ciências da Comunicação (PPGCOM) da ECA/USP e contou com financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa no Estado de São Paulo (Fapesp).

Com 11 pesquisadores envolvidos, o estudo revelou que as redações jornalísticas se virtualizaram, os fluxos de trabalho se dão em ambientes online como aplicativos de redes sociais e de trocas de mensagens instantâneas e as relações de trabalho são horizontais. “As redações são espaços virtuais digitais de conexão com fontes, equipe de trabalho, suporte técnico e logístico. O trabalho colaborativo em rede se dá em sua expressão plena, seja entre equipes com pessoas em diferentes países e estados do país, seja em diferentes bairros da cidade”, explica a coordenadora da pesquisa.

Até chegar aos resultados finais, a investigação passou por quatro momentos. No primeiro, foram mapeados 70 arranjos, tomando como ponto de partida o Mapa do Jornalismo Independente criado pela Agência Pública, em 2016. Posteriormente, os arranjos foram caracterizados e nucleados com base na auto declaração, que os agrupou em níveis de gradação que vão dos autodeclarados jornalísticos aos que não se intitulam como tal e praticam comunicação. O terceiro passo consistiu em entrevistas com 26 representantes dentre os arranjos catalogados. A última etapa tratou da realização de grupos de discussão com 15 jornalistas desses arranjos alternativos e/ou independentes.

Dentre os arranjos que participaram do estudo estão Agência Pública, Mídia Ninja, Jornalistas Livres, Az Mina, Nós Mulheres da Periferia, Opera Mundi, Envolverde, É Nóis, dentre outros. Muitos destes e dos demais arranjos investigados indicam a falta de sustentação econômica como o principal entrave à prática jornalística autônoma. “Os profissionais sustentam sua ação jornalística no arranjo com outro trabalho, em atividades de cursos, palestras, freelancer no jornalismo para outros veículos, eventos, assessorias etc. Há também a busca de recursos em editais públicos, em campanhas para doações, campanhas de crowdfunding, parceria com fundações nacionais e estrangeiras”, observa Roseli Fígaro.

A partir dos resultados da pesquisa, o CPCT oferece subsídios empíricos para se repensar o trabalho jornalístico na contemporaneidade. A precarização das condições de exercício da profissão e o monopólio informativo não só dos grandes meios de comunicação, mas dos conglomerados digitais como Google e Facebook, são impeditivos para o livre exercício da profissão.

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