A comunicação no mundo do trabalho dos carregadores da CEAGESP

Autor: Jamir Kinoshita

O presente estudo mostra como a imbricação entre a comunicação e o mundo do trabalho contribui para a formação da identidade dos carregadores autônomos que atuam no Entreposto Terminal São Paulo da CEAGESP. Na maior central de abastecimento da América Latina de frutas, verduras, legumes, flores, pescados e diversos (alho, batata, cebola, coco seco e ovos), esses profissionais fazem das relações interpessoais, que estabelecem com permissionários e compradores, o diferencial para obterem serviço todos os dias. A atividade, eminentemente masculina, árdua e que demanda muita força, remete aos moldes de trabalho braçal da era medieval, sobrevivendo em pleno século XXI em meio a uma situação total de precarização da mão de obra. Com seus carrinhos de madeira repletos dos mais diversos tipos de mercadorias, eles têm uma jornada de trabalho bastante pesada e exaustiva. A partir de uma pesquisa exploratória, feita com base em observação de campo geral e específica, em registros fotográficos e em entrevistas aprofundadas, analisamos a execução dessa tarefa em dois ambientes distintos de comercialização: na Feira de Flores e no Pátio do Pescado. Pela perspectiva ergológica, pudemos perceber a existência de um conhecimento específico para transportar os produtos em cada um desses lugares, que se espraia com a descoberta do caráter do inédito do trabalho. A percepção da atividade linguageira vem à tona quando avaliamos os discursos dos carregadores, que revelam não só as dificuldades como as condições insalubres de trabalho. Aliás, a situação autônoma da profissão faz com que os permissionários e a própria CEAGESP sejam os beneficiários dessa mais-valia. Longe de serem empreendedores, esses trabalhadores se veem praticamente sozinhos em seu ofício, já que até o sindicato da categoria sofre as consequências de fazer parte de um sistema em que tudo parece confluir para não dar certo. Mesmo assim, a atividade persiste, devido exclusivamente à determinação e à força política e social (ainda não devidamente reconhecidas) dos carregadores, e é de uma extrema importância dentro de toda a cadeia de abastecimento.

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