Esta segunda fase da pesquisa, cujo título original do Projeto é As relações de comunicação e as condições de produção no trabalho de jornalistas em arranjos econômicos alternativos às corporações de mídia: produção jornalística, contou com apoio do CNPq, processo número 409146/2016-1.
O objetivo é estudar o jornalismo produzido pelos novos arranjos do trabalho dos jornalistas de São Paulo. É uma pesquisa exploratória qualitativa. A pesquisa, iniciada em 2017, tem como ponto de partida o mapeamento dos 70 arranjos jornalísticos identificados em São Paulo e o estudo aprofundado (entrevista semiestruturada e grupos de discussão) realizado, na primeira fase, com a amostra de 29 deles. Essa primeira fase contou com fomento da Fapesp e os resultados estão publicados em artigos e e-book disponível no site do CPCT.
As perguntas desta segunda fase da pesquisa são: Esses arranjos produzem jornalismo? E que tipo de jornalismo produzem? As prescrições e as relações de comunicação para o trabalho jornalístico nos novos arranjos econômicos alternativos resultam na produção de um jornalismo de compromisso com os direitos da cidadania?
Para respondê-las se estabeleceu como metodologia a coleta do material jornalístico produzido por cada um de 29 arranjos do trabalho do jornalista de São Paulo que compõem a amostra. Os períodos selecionados para a coleta do corpus foram a semana do primeiro (01/10 a 08/10/2018) e do segundo (22 a 29/10/2018) turnos das eleições de 2018. O acompanhamento e coleta do material dos respectivos sites se deu por meio do software NVivo; e a coleta do material das redes sociais Twitter e Facebook dos arranjos se deu por meio do software Netlytic.
O material coletado foi organizado em arquivos em pdf e em planilhas do Excel com os links das matérias e dos posts; e exigiu o desenvolvimento de categorias que pudessem permitir a análise de aspectos do processo produtivo e das lógicas de circulação desses produtos. As categorias teórico-metodológicas mobilizadas para a análise foram: regime de publicação; gênero, instância de produção; instância de composição; e instância de circulação.
Os resultados mostram uma diversidade de abordagens editoriais, múltiplas formas de organização do material produzido, ritmos de produção diferentes e concepções editoriais também diferenciadas: umas mais se aproximam do conjunto de valores do jornalismo da racionalidade liberal, e outras desafiam certos parâmetros consolidados, estabelecendo diálogos mais amplos e comprometidos com seus públicos. As formas de fazer e de organizar os respectivos veículos de comunicação também exigem uma reflexão ancorada nas condições de produção, ou seja, como esses profissionais acessam recursos e infraestrutura para produzir, compor e circular o material produzido. Os arranjos de trabalho dos jornalistas que estudamos estão comprometidos e exercem um jornalismo mais plural, mais engajado com os direitos das maiorias, defensores da democracia e da maior participação dos cidadãos nas decisões da coisa pública. Esse engajamento aos temas democráticos e populares se deu por vias diversificadas: os abertamente engajados na cobertura da campanha de candidatos à esquerda do espectro político; os que fizeram a cobertura de temas polêmicos que não interessavam aos candidatos e posições à direita do espectro político; os que fizeram a cobertura focada em questões de gênero e identidade que também foram foco de ataque dos candidatos à direita do espectro político. São claros os matizes de posições que orientam as pautas e as coberturas.
Por fim, podemos afirmar que, se esses arranjos tivessem mais e melhores condições de trabalho para produção jornalística, certamente não estaríamos tão carentes de informação de qualidade, bem como a sociedade poderia fazer uso dessas informações para escapar à lógica da (desinformação que monetiza e despolitiza.